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23 de março 2022. Nesse dia, pela primeira vez, Portugal contou com mais dias de democracia (17 500) do que aqueles que foram vividos em ditadura (17 499). Foi a ditadura mais longa da Europa e vivemos numa treva enorme que nos faz conscientes do valor da liberdade, embora, por vezes, estejamos um pouco adormecidos. E nenhum povo que escolheu viver em liberdade e democracia deveria passar pela tragédia que os ucranianos estão a passar. Se um país forte pode impor força a outro que não o ameaça, cometendo crimes de guerra, destruindo um país, a democracia no mundo inteiro está em perigo.

24 de março 2022. Cumpriu-se um mês de guerra na Ucrânia, provocada pela invasão da Rússia, que se arrasta, e já causou centenas de mortos, destruiu património, separou famílias e está na origem da maior crise de refugiados desde a Segunda Guerra Mundial. Os piores receios relativamente a Putin vêm a tornar-se realidade e o nível de destruição é cada vez maior. O mundo todo receia uma escalada para o plano nuclear, pelo risco e perdas irrecuperáveis que acarretaria. E corremos esse risco, se Putin não for dissuadido de considerar essa possibilidade.

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A Europa tem de estar ao lado da liberdade, da democracia e da paz, tem o dever de não deixar os ucranianos sozinhos e ajudar as pessoas que fogem da guerra. E se a guerra é decidida pelos homens poderosos, deparamo-nos com uma maior crueldade da mesma para com os indefesos que não pegam em armas – em especial as mulheres. Estas, ao procurarem asilo para fugir da guerra, levam consigo as crianças, parentes idosos e dependentes, tornando-se ainda mais vulneráveis. Suportam a fome, o frio, e os sérios perigos para a sua vida e dignidade, como redes de tráfico e de exploração sexual, enquanto permitem a preservação e o futuro da vida, através das crianças que têm a seu encargo.

Um número que dá a verdadeira dimensão da guerra: mais de metade das crianças ucranianas, de todas as crianças ucranianas, estão deslocadas internamente ou são refugiadas noutro país. Falamos de 4,3 milhões de crianças, dos 7,5 milhões de crianças que existem em toda a Ucrânia. Os dados são da Unicef.

Só em crianças em fuga é o equivalente a quase metade da população portuguesa. Crianças a que se está a roubar a infância e a adolescência, comprometendo gerações.

Por estes dias, uma Juíza do Tribunal de Instrução Criminal de Lisboa tomou uma decisão pouco digna de Justiça, que é um dos pilares fundamentais da democracia. Considerou que o arguido, Mário Machado, assumido militante neonazi, com condenações efetivas e com processos judiciais em curso, poderia deixar de se apresentar quinzenalmente na esquadra da polícia, para seguir rumo à Ucrânia com um grupo de portugueses, a fim de prestar ajuda humanitária e, se necessário, combater ao lado das tropas ucranianas.

A pessoa estava obrigada a esta medida de coação no âmbito de processo em que está indiciado pelo crime de posse de arma proibida, com outros processos a correr na justiça relacionados com o incitamento ao ódio racial e violência nas redes sociais. Mário Machado não foi aceite na legião internacional, foi rejeitada a possibilidade de o neonazi se juntar a uma milícia. Uma grande lição da Ucrânia. Os regimes democráticos não precisam de neonazis em sua defesa.

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1 COMENTÁRIO

  1. Sem dúvida que sim Marília! É nosso dever, enquanto defensores da paz, não calarmos as nossas vozes perante a loucura saudosista de uma déspota que teima em semear a morte e a miséria.
    E sim, a Ucrânia não precisa de neonazis para os defender, mas não tenho dúvidas que também eles lá andam a (tentar) defender os seus interesses.
    Cumprimentos,
    Pedro Viseu

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